afrofuturo: uma perspectiva
Quando ouvi falar sobre Afrofuturismo a primeira vez nos idos de 2015 percebi que morava ali um enorme potencial de falar de questões de raça por um viés que contemplasse também estética, música, imagem e outras questões que não se limitam à discussão política. Entendi o potencial que aquelas referências e ideias tiveram sobre mim e me perguntei se poderiam reverberar em outras pessoas pretas.
Foi nesse sentido que passei muito tempo gestando esta ideia e pensando em que formato ela deveria existir. E enfim chegamos aqui! Praticando o exercício de honrar a construção dos que vem antes de nós, convido as palavras da pesquisadora Kênia Freitas para definir Afrofuturismo:
“Afrofuturismo é um movimento estético, político e crítico plural e multifacetado, tendo como ponto em comum uma narrativa especulativa, alternativa e fantástica para as experiências das populações negras — de todo o mundo — no passado, no presente e no futuro”.
Existem muitos materiais já produzidos e para você entender mais sobre o assunto, vou deixar aqui, aqui e aqui três boas referências para entender um pouco mais do contexto do movimento que me fez querer criar um espaço de diálogo sobre questões de raça que perpassasse nossa existência completa.
Uma perspectiva que projeta um futuro onde pessoas pretas existem tendo África (continente e diáspora) como seu centro; espiritual, cultural, econômico… Um futuro onde a visão do outro sobre nós não seja mais central, onde não sejamos corpos estranhos ou lidos como “o outro” com relação à um sujeito normatizador. Um afrofuturo. Uma perspectiva que tenha nossas narrativas no centro, onde nossos valores primordiais sejam protagonistas.
Um dos aspectos mais relevantes para esta perspectiva que se construirá é o resgate de valores ancestrais africanos. Entendendo o futuro como uma construção mental, uma projeção ou mesmo uma ficção de um tempo que ainda não existe, é importante ressaltar que o processo de colonização invisibiliza o acúmulo ancestral de saberes e modos de vida africanos. O exercício de fazer dialogar referenciais contemporâneos e ancestrais permeará as reflexões que faremos neste espaço para nos servir como terreno fértil para construção imaginativa de novas (ou esquecidas) possibilidades de existência para pessoas negras.
Disputar poder através do protagonismo de narrativa deixando de ser objeto (de estudo ou exploração) se torna necessário num mundo que nos mata, tanto físico quanto simbolicamente; um mundo estruturado para nos invisibilizar e fazer do futuro um lugar onde não estejamos. Por isso parece urgente pensar e criar um espaço onde pessoas pretas estão vivas e falam em primeira pessoa sobre assuntos variados. Na tradição espiritual do culto aos Orixás/Voduns/Nkicis palavra é asè. Asè é uma palavra Yorubá que significa poder, força ou literalmente “nós realizamos” através da crença em nossos ancestrais. Refletir, escrever e projetar através da palavra me pareceu um bom formato para começarmos essa conversa.
Refletir passado e presente para construir novas possibilidades de futuro a partir de nossas próprias referências, de nossa própria existência.
Bem vindos ao afrofuturo.
// Morena Mariah é filha de Osun, fundadora da @inovacolab e graduanda em Estudos de Mídia pela Universidade Federal Fluminense.